Perfil do Profissional

Conforme estabelecido no Projeto Pedagógico do Curso de Graduação em Letras: Licenciatura em Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa, quanto à formação pedagógica, política, cultural e acadêmica, "o perfil desejado para o formando é o de um profissional:

 

  1. Inconformado e preparado para lutar por um ensino de qualidade, pela dignidade de sua profissão, e que saiba afirmar a disciplina que leciona, na mesma medida em que considera a necessidade de estabelecer diálogos interdisciplinares com outras disciplinas e saberes;
  2. Ciente das dificuldades epistemológicas, históricas, culturais, econômicas e estruturais da realidade do ensino fundamental e médio, de tal maneira que possa compreender que a sua formação exige não apenas que ele cobre de seus formadores uma formação acadêmica apta para realmente licenciá-lo para a prática docente, mas que também seja capaz de estimular seus futuros alunos a igualmente exigir-lhe conteúdos e competências que os estimulem e preparem para lidar com os desafios da sociedade contemporânea;
  3. Que perspective a prática e o estudo como indissociáveis, de modo a colocar-se como um professor que pesquisa, motivado pelos desafios do ensino fundamental e médio;
  4. Que assuma seu processo de conhecimento de maneira, mais que independente, interdependente, visto que o processo de ensino-aprendizagem será tanto mais libertário quanto mais tiver como referência a interação efetiva com todos os sujeitos envolvidos, a saber: outros professores, alunos, outros saberes; pais, diretores, funcionários; a comunidade escolar, enfim;
  5. Que seja ao mesmo tempo um profissional de sua área e um educador, um professor que saiba da importância dos conteúdos pedagógicos, não apenas para ensinar melhor a sua disciplina, mas também para adquirir competências necessárias a todo e qualquer docente;
  6. Capaz, ao mesmo tempo, de reconhecer suas dificuldades e carências, como um profissional de ensino, um professor, a quem cabe assumir a condição de aluno também, de aprendiz, destituindo sempre a polaridade professor/aluno, posto que reconhece que, sem receio do  clichê, ensinar é sempre um ato de aprendizagem, de ensinar e de aprender com, e tudo ao mesmo tempo;
  7. Que constitua sua competência não de forma disciplinar e segmentada, como professor de conteúdos de língua e literatura, mas que esteja todo o tempo consciente da feição político-transformadora que pode e deve caracterizar o trabalho com a linguagem, e sabendo o quanto é necessário desarticular, por esse trabalho, a ordem tradicional, no que se refere à relação entre saber e poder, o que só é possível através de uma prática docente que, conscientemente político-pedagógica, não aceite reproduzir os valores e representações hegemônicos;
  8. Consciente do lugar sociocultural das humanidades, no mundo de hoje, frente aos saberes “oficialmente” legitimados e, por consequência, procurando, a partir de sua identidade como profissional das Letras, usar o seu repertório de conhecimento metalinguístico e metaliterário para produzir, com suas futuras alunas e futuros alunos, uma visão crítica sobre a ordem dos saberes, no mundo contemporâneo, e antes de tudo sobre como essa ordem e sua hierarquia estão ideologicamente inscritas na própria língua, objeto por excelência de sua formação como docente;
  9. Em decorrência do que foi explicitado acima, que tenha competência político-pedagógica e epistemológica para ultrapassar uma visão tecnicista e positivista do conhecimento metalinguístico e metaliterário, posto que deve estar apto para perceber que o morfema  meta, significando saber sobre a língua e a literatura, também deve ser entendido como saber sobre o modo como as mais diversas formas de poder se inscrevem na chamada língua padrão,  e suas variáveis;
  10. Portanto, formado teórica e politicamente para reconhecer e posicionar-se em relação ao lugar estratégico da linguagem verbal, em todas as situações sociais, e capaz de garantir o desenvolvimento linguístico de seus alunos na variante padrão, sem transformar esta última em referência de verdade do “bem falar”, do falar e escrever “certos”, a fim de não alimentar e reproduzir preconceitos linguísticos em relação às outras variantes linguísticas e, mais do que isso, capaz de pôr o próprio português padrão em xeque, sabendo mostrar, para seus futuros alunos, que o que chamamos de português padrão é uma construção ideológica, um posicionamento de poder, no lugar de ser uma verdade lingüística;
  11. Que, em face do desprestígio da leitura, e da própria literatura, numa sociedade ainda positivista, midiática e imediatista, detenha informações, e vontades, para estimular a leitura e a produção de textos literários, em sala de aula,  reconhecendo a importância contra-ideológica do saber literário para a aluna e o aluno do ensino fundamental, seja em função da dimensão lúdica da literatura, seja em função de sua especificidade discursiva, qual seja, a de um discurso capaz de mostrar-nos que o discurso, qualquer discurso – o literário, o científico, o familiar, o econômico - é uma construção histórica. Assim sendo, que seja um professor ciente de que, no contexto das práticas discursivas socialmente em vigor, a literatura, além de sua dimensão lúdica, de jogo e de prazer, pode também ter, a partir da posição que os responsáveis pelo seu ensino assumam perante ela, a finalidade de mostrar que os segundos termos dos polos dicotômicos falso/verdadeiro, ficção/realidade, errado/certo, não sério/ sério,  cultural/natural, anormal/normal, feminino/masculino, e tantos outros, podem também ser compreendidos como falso, ficção, errado, não sério, cultural, anormal e feminino, o que contribuiria sobremaneira para qualificar a importância social do ensino da literatura na sala de aula."

 

Texto extraído integralmente do PPC Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa 

 

(Postagem atualizada por Prof. Dr. Roberto Perobelli, em 11 de fevereiro de 2016, às 12h42)

 

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