NOTA

O Departamento de Línguas e Letras da Universidade Federal do Espírito Santo vem a público se posicionar em relação ao emprego da linguagem inclusiva e do gênero neutro, manifestando assim sua solidariedade às professoras e aos professores da Educação Básica, bem como à vereadora Camila Valadão, devido aos episódios ocorridos em início de março de 2021, amplamente veiculados pela mídia local, com repercussões inclusive em sessões da Câmara de Vereadores da cidade de Vitória – ES.

Diferentemente do que foi alegado por alguns, o uso da linguagem inclusiva não constitui uma afronta à língua portuguesa, uma vez que esta, como qualquer outro idioma, é composta por uma diversidade de variantes linguísticas, motivadas por múltiplos fatores (tais como: localização geográfica, classe social, faixa etária, grupo profissional, entre tantos outros), conforme atestam os estudos e pesquisas mais atuais acerca da natureza multifacetada das línguas. A língua é histórica e, portanto, um objeto que está em constante mudança, refletindo as transformações por que passa cada sociedade onde a língua concretiza sua existência.

Desse modo, não se justifica lançar mão do argumento do respeito à língua portuguesa com a finalidade de cercear a forma de expressão de professoras(es), vereadoras(es) ou qualquer outra pessoa, no que diz respeito ao uso da linguagem inclusiva.

Na condição de linguistas, professoras(es) e pesquisadoras(es) da área de Línguas e Literaturas, nos posicionamos em favor da diversidade linguística e social, e reiteramos, pois, nossa solidariedade à vereadora Camila Valadão, bem como às(aos) professoras(es) da Educação Básica, que devem ter sua liberdade de cátedra sempre respeitada.

O policiamento constante que se evidencia, nos últimos tempos, contra a docência, seja do Ensino Fundamental, do Médio ou do Universitário, em nome de combater ideologias, é em si uma ideologia; e a pior delas, a fascista – uma ideologia de partido único, totalitária.

O que se pretende, desse modo, com a tentativa de impor uma visão limitada e normativa do uso da língua portuguesa, constitui uma variável daquilo que ficou conhecido como a “escola sem partido”, compreendida, a rigor, como a imposição arbitrária e autoritária do “partido fascista”, cuja razão de ser não é outra senão esta: calar a própria política e, por extensão, a democracia, definida como o poder do povo, com sua diversidade, com sua complexidade, com seu dissenso humanista, transcendente porque solidário, porque criativo, porque soberano, porque comum.

E o que é o fascismo? O fascismo é a violência, profundamente desumanizadora, exercida, por exemplo, em nome de uma proteção à língua, de um nacionalismo de fachada e cínico, estando, na verdade, a serviço de forças externas que oprimem nosso povo. Manifestando-se sob a forma de tentativa de silenciamento, o fascismo é também o ódio covarde à soberania nacional e popular. Tem como objetivo saquear a riqueza nacional, inclusive a diversidade linguística, de gênero e étnica, a fim de impossibilitar que o país se desenvolva plenamente, seja sob o ponto de vista industrial, seja tecnológico, seja cultural, seja humanamente, condições indispensáveis para uma verdadeira sociedade democrática.

O fascismo é, pois, uma traição à bandeira nacional. Com seu “entreguismo”, detém uma única finalidade: reprimir a dissidência e a diversidade, imanentes à soberania popular-nacional, a fim de garantir, pela força, a submissão do país aos interesses imperialistas, multiplicando a miséria e disseminando a fome, além da superexploração do trabalho.

Nós, professoras(es) e pesquisadoras(es), nos solidarizamos com nossas(os) colegas professoras(es) da Educação Básica e com a vereadora Camila Valadão, porque defendemos a democracia, o direito à liberdade de expressão soberana do povo brasileiro, o verdadeiro “dono” de sua língua, conhecendo-a melhor do que ninguém, porque a usa para criar, amar, trabalhar, viver.

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